quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Origem do samba

solMNRelembrar a infância me fez muito bem esses dias. Lembrei-me do que se podia fazer com um real, de cada escola que passei, dos banhos de chuva, invasões as casas abandonadas, guerras com arminhas de feijão, contos de terror quando faltava energia, tocar a campainha do vizinho e sair correndo, álbuns de figurinhas, meu Mega drive, e o meu primeiro amigo Ray, também conhecido como “urêa de morcego”, que traduzido do cearense para o português quer dizer “orelha de morcego”.

Mas, algo em especial chamou minha atenção. As historias contadas por minha mãe, que tinham o poder de me levar a qualquer lugar em segundos, me fazendo ficar com os olhos atentos, ouvindo cada palavra, sentindo uma paz que vinha acompanhada de um sorriso constante. Aos poucos, essa paz ia se transformando na sensação de que sabia tudo sobre o mundo. Dentre essas historias, havia minha favorita, “A origem do samba”, que contava como o samba, nosso estilo musical brasileiro, passou a existir.

Foi assim: Certo dia havia dois indiozinhos na beira da lagoa. O indiozinho que estava apaixonado pela indiazinha, começou a cutucá-la. Então ela disse: - Não me cutuca! E ele cutucando-a novamente, respondeu: - Eu te cutuco! Ela afirmou: - Não me cutuca! E ele continuou a cutucar, disse: - Eu te cutuco! Assim ficaram por vários minutos, e o ritmo das cutucadas ia aumentando, ficando mais ou menos assim: não me cutuca eu te cutuco, nãomicutuca-Euticutuco, nãomicutu-euticutu, nomicutucotictu, nomicutucochictu, nomicutu-quechictu, quechictu-quechictu...

Como gostaram da sonoridade, passaram a utilizar esse estilo musical, que até hoje conhecemos como samba.

Depois de relembrar essa historia, veio em mente uma pergunta: como pode uma historia tão boba aguçar minha capacidade de imaginação e aflorar uma relação? Intrigado com essa pergunta, passei a me questionar sobre isso: Como você pode ter perdido a capacidade de se vislumbrar com os momentos mais simples da vida? Porque situações que antes te aproximavam das pessoas que você ama, agora passam despercebidas? Como você deixou os momentos mais ricos perderem seu valor?

Aquilo me desestabilizou. Pude notar que quanto mais velhos, menos sensíveis ficamos a perceber o que há de mais precioso. Na verdade somos capitalistas atrapalhados, tentamos inutilmente preencher nosso vazio através do consumo e do poder aquisitivo. A danada da felicidade parece mais um horizonte utópico, nós andamos e andamos sem nunca encontrá-la. Agora não tenho dúvidas de que a pessoa feliz tem sua pirâmide de valores invertida, onde, o amor se apresenta nas simples atitudes, mostrando que a felicidade sempre esteve bem presente.

Percebo que o outro me completa. E não se trata apenas da minha mãe ser importante pra mim, mas também do quanto sou importante pra ela. É necessário haver aprofundamento em nossos relacionamentos, exaltando espontaneamente o valor que damos uns aos outros. Afinal, desfrutar da vida é mergulhar no íntimo das pessoas que amamos e Lá brincar de quem passa mais tempo debaixo d’água. Com simplicidade conseguimos enxergar os detalhes que nos aproximam e que tornam a vida tão interessante. Ser simples passa a ser sinônimo de felicidade. Em uma sociedade movida pelo dinheiro, prefiro acreditar que o Samba foi inventado por dois indiozinhos.

4 comentários:

  1. Bela história Glauco, nesse momento só tenho vontade de repetir algumas de suas palavras (se me permite):"...com simplicidade conseguimos enxergar os detalhes que nos aproximam e que tornam a vida tão interessante. Ser simples passa a ser sinônimo de felicidade."
    Eu acredito fielmente nisso tb!!!

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  2. Nossa Glauco estou encantada pelo texto, nele podemos perceber o quanto você é sensível,amoroso, um belo ser humano. Hoje infelizmente é difícil encontrar pessoas com esse nível de sensibilidade, as pessoas estão realmente mais preocupadas em ganhar dinheiro posteriormente contar para colegas o quanto é feliz por ter certos bens materiais esquecendo que a verdadeira felicidade estar no AMOR, amor nas relações, o cuidado para com o outro.
    Vou continuar lendo os textos. Já costumo acompanhar alguns blogs e o seu agora vai fazer paste dessa lista
    Abraços, com carinho
    cízia

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    1. Obrigado Cizia. O que me inspira a escrever (viver) são pessoas como você, especialistas em tornar outras pessoas melhores, mesmo que acidentalmente, mesmo que sem querer, sendo fonte de sensibilidade e amor. Sou grato por suas palavras e por seu carinho. E que venham novos textos e uma bela amizade.
      Abraços,
      Glauco Roniê

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  3. Não me cutuca. Eu te cutuco.
    Vou levar esse texto pra sempre comigo.

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